
Reflexōes & Poemas
Interculturais
Uma visão poética e psicanalítica sobre a vida no exterior.
Um espaço de acolhimento e contemplação, onde temas como identidade, pertencimento, migração e a riqueza das diferentes culturas se entrelaçam.

"Fremd bin ich eingezogen, fremd zieh ich wieder aus"
Esse trecho é a primeira linha do poema "Gute Nacht", que abre o ciclo de canções "Winterreise" ("Viagem de Inverno") composto em 1827 por Franz Schubert, com texto do poeta Wilhelm Müller. Traduzido do alemão, significa:
"Estrangeiro eu cheguei, e estrangeiro eu parto novamente."
A frase reflete um profundo sentimento de alienação e solidão. O protagonista da canção, um viajante, expressa o sentimento de ser estrangeiro ou deslocado, tanto ao chegar quanto ao partir.
Esse tema de estranhamento e exílio emocional permeia o ciclo de canções, que trata da jornada interior e exterior de alguém que enfrenta desilusões amorosas e a frieza do inverno, tanto literal quanto figurativa. E quantos de nos expatriados ou imigrantes nao nos identificamos com essa frieza com a qual nos deparamos ao nos encontrarmos em território estrangeiro?
O "estrangeiro" aqui pode simbolizar o desenraizamento emocional e a incapacidade de encontrar um lugar de pertencimento, sentimentos com os quais estamos muito bem familiarizados ao longo de nossas jornadas pelo mundo.
Reinventando heranças culturais e pessoais no exterior
“Was du ererbt von deinen Vätern hast,
Erwirb es, um es zu besitzen"
Esse trecho é de Goethe, retirado da obra Fausto (Faust), uma das mais importantes da literatura alemã. A citação completa, traduzida para o português, seria algo como:
"O que herdaste de teus pais,
conquista-o para possuí-lo."
Essa frase tem um significado profundo no contexto da obra e da filosofia de Goethe. Ele está sugerindo que, embora possamos herdar valores, conhecimentos, cultura ou posses de nossos antecessores, isso por si só não é suficiente.
Para realmente possuir e dar valor a essas heranças, precisamos trabalhar por elas, fazê-las nossas por meio de esforço pessoal, reflexão e transformação. É como se ele dissesse que a verdadeira propriedade, seja de bens materiais ou imateriais, como o conhecimento, exige engajamento ativo e pessoal.
Canção do Exílio - a Saudade romântica
"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."
Primeiros Cantos, 1843
Gonçalves Dias
Essa obra é um dos mais conhecidos exemplos do romantismo brasileiro, e expressa o sentimento de saudade e desejo de retorno à pátria.
Escrita por Gonçalves Dias quando ele estava longe do Brasil, em Coimbra, reflete o ideal romântico de ligação profunda com a terra natal, algo que muitos expatriados e migrantes podem identificar no contexto de deslocamento.
Assim falou Zarathustra
"Ninguém se torna consciente de si mesmo sem o conflito; nós precisamos do conflito. Enquanto não estamos vivendo de acordo com nossa própria escolha, não podemos nos conhecer. Devemos ser capazes de escolher por nós mesmos."
Jung, O Zaratustra de Nietzsche, Seminários 1934 e 1935, IV, 31/10/34
Essas sāo as palavras de Jung ao ler a obra de Nietzsche "Also Sprach Zarathustra", publicada em 1885. Essa obra e uma refereência fundamental para o desenvolvimento da Psicologia Analítica Junguiana, pois possui as mesmas caracteristicas do meétodo Junguiano de interpretaçāo psicológico, intuitivo e construtivo.
Rabiscos
"Leve seus diarios e pinturas
para o outro lado do mar quando partir
e assim que voce vai lembrar de quem e
quando estiver perdida nas novas cidades
e e assim que seus filhos vao saber que
voce ja viveu uma vida inteira antes deles"
O que o Sol faz com as Flores, Rupi Kaur
Para Jung, a criação artística é uma ponte para o inconsciente, uma expressão do Self em sua busca por totalidade.
Em cada nova cidade, carrego meus desenhos como símbolos vivos dessa jornada interna e externa, um reflexo de quem fui e de quem ainda estou me tornando.
Um dia minha filha vai olhar para meus desenhos, e verá não apenas as cidades onde vivi, mas as muitas versões de mim que floresceram nelas. E eles vão me permitir navegar por vários mares, sempre ancorada em mim mesma.
